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5 filmes do In-Edit Brasil 2018 para assistir e se emocionar
A décima edição do In-Edit Brasil ocorreu entre os dias 7 e 17 de junho em São Paulo, SP. O In-Edit Brasil é um festival de cinema realizado anualmente em na capital paulista, dedicado a documentários musicais.
Com mais de 120 documentários musicais, o In-Edit Brasil 2018 resgatou alguns personagens que andavam esquecidos no cenário musical brasileiro.
Assim sendo, entre os filmes exibidos na ocasião, elenquei uma seleção de filmes que me chamaram a atenção. Confira!
1. A Guitarra e o Plebeu (Dir.: Breno Soares)
“A Guitarra e o Plebeu”, com roteiro e direção de Breno Soares, apresenta a história do guitarrista Irio de Paula.
Brasileiro, o músico fez carreira na Itália, onde se estabeleceu em 1970, durante uma turnê acompanhando a cantora Elza Soares.
Exímio guitarrista e violonista autodidata, com os dois pés fincados no samba jazz, gravou mais de 50 discos na Europa. Um dos marcos de sua carreira foi a participação na gravação italiana da canção Per un Pugno di Samba, de Chico Buarque, regida e orquestrada pelo maestro Ennio Morricone.
Em suma, Irio de Paula ganhou bastante reconhecimento na Itália quando sua canção “Criança”, interpretada por Franco Micalizzi, integrou o filme L’ultima neve di primavera (1973), por sua vez dirigido por Raimondo del Bazzo.
Logo após o lançamento do filme, a canção alcançou o primeiro lugar nas paradas de sucesso do ano. Assim sendo, a exibição do film In-Edit Brasil resulta em uma grande homenagem a Irio, um ano após sua morte. Ele faleceu em Roma em 23 de maio do 2017.
2. Smetak (Dir.: Simone Dourado, Mateus Dantas e Nicolas Hallet)
Outro filme do In-Edit Brasil que apresenta um personagem sempre citado nas entrelinhas, mas com pouco reconhecimento em grande escala, é o filme “Smetak”, dirigido por Simone Dourado, Mateus Dantas e Nicolas Hallet.
Na tela, vemos uma retrospectiva da vida de Walter Smetak (1913-1984), músico suíço radicado no Brasil em 1937, que fez sua carreira dedicando-se ao ensino, à experimentação sonora e à construção de instrumentos na Universidade Federal da Bahia.
Na faculdade, se estabeleceu como professor a convite feito pelo compositor e regente Hans Joachim Koellreutter (1915-2005).
O músico fez parte de uma importante cena cultural na Universidade da Bahia que, a partir dos anos 1950, reuniu expoentes estrangeiros radicados no Brasil como a arquiteta italiana Lina Bo Bardi (1914-1992), a dançarina polonesa Yanka Rudzka (1916-2008) e o fotógrafo e antropólogo francês Pierre Verger (1902-1996).
Todos eles, por sua vez, ajudaram a formar nomes como Gilberto Gil, Caetano Veloso, Glauber Rocha e Tom Zé que, por conseguinte, de movimentos culturais cruciais como o Cinema Novo e a Tropicália.
3. O Fabuloso Zé Rodrix (Dir.: Leo Côrtes e Toninho Vaz)
Outro nome retirado do ostracismo não é tão outsider quanto os anteriores, mas é importante retomar sua importância para o cenário da música popular e psicodélica brasileira.
O Fabuloso Zé Rodrix conta a história de José Rodrigues Trindade (1947-2009). Autor de sucessos nacionais como Casa no Campo, interpretada por Elis Regina, o músico integrou o grupo Som Imaginário, representante da psicodelia nacional que acompanhou Milton Nascimento no álbum Milagre dos Peixes.
Além disso, o músico foi um dos expoentes do rock rural, com os discos gravados ao lado de Sá e Guarabyra e integrou a banda Joelho de Porco.
Inclusive, assista a um vídeo com uma apresentação da Banda Som Imaginário. Na ocasião, Zé Rodrix atuava como cantor e tecladista.
4. Onde Está Você, João Gilberto? (Dir.: Georges Gachot)
Outro filme que chamou a atenção na seleção do festival é o Onde Está Você, João Gilberto?, dirigido pelo franco suíço Georges Gachot.
É importante saber que o filme é baseado no livro Ho Ba La La – À Procura de João Gilberto, do alemão Marc Fischer, que por sua vez apresenta a busca do documentarista pelo maior expoente da música brasileira no mundo: João Gilberto.
Acima de tudo, Gachot é um documentarista com boa relação com a música brasileira, pois dirigiu filmes como:
- Música é Perfume (2005), no qual retratou Maria Bethânia;
- Rio Sonata (2010), cuja personagem principal era Nana Caymmi;
- O Samba (2015), onde tem Martinho da Vila como protagonista.
Similarmente às outras obras, Gachot demonstra o caráter mitológico que o isolamento de João Gilberto ganhou, especialmente entre os estrangeiros.
O filme mostra, portanto, um João Gilberto excêntrico, preso em seu apartamento e sem fazer apresentações há anos e o momento em que sua música ganha destaque internacional – exatamente no ano em que a Bossa Nova completa 60 anos da icônica gravação de Chega de Saudade (Jobim/Vinicius).
5. O filme da Impulso no In-Edit Brasil: Vinil, Poeira e Groove (Dir.: Diego Casanova)
Já no filme Vinil, Poeira e Groove, dirigido por Diego Casanova, o personagem principal não é um músico, é um objeto: o disco de vinil.
Acima de tudo um dos maiores motores da economia do disco no Brasil até os anos 1980, o disco de vinil viveu, depois da chegada do CD, uma lenta agonia. Ao mesmo tempo, a pirataria e o compartilhamento de arquivos pela internet ampliaram a queda.
Em suma, os discos foram abandonados pela indústria, que parou de fabricá-los, e pelo público, que parou de adquiri-los.
No entanto, vários jovens continuaram a frequentar sebos e algumas das poucas lojas de discos restantes. De certo modo, assim foram resgatando preciosidades que andavam abandonadas por aí.
Dessa forma, com paciência, trabalho e cheirando muita poeira, o trabalho começou a dar retorno. Assim sendo, os insistentes colecionadores começaram a redescobrir importantes personagens esquecidos, salvar discos icônicos do ostracismo e, ao mesmo tempo, embalar festas e recuperar (em uma escala muito menor, mas sustentável) um mercado abandonado há anos no Brasil.
Grandes nomes da música prestaram depoimentos
O filme apresenta, ainda, depoimentos de pequenas empresas e personalidades do meio musical como: Criolo, Arthur Joly, Discopédia, Vinil é Arte, Goma Gringa, Vinil Brasil, Somatória do Barulho e Partido B.O.
Deste modo, o filme apresenta um retrato do renascimento do vinil enquanto possibilidade econômica para músicos, pequenos empresários e aficionados pelo disco em um cenário de redesenho da cadeia produtiva musical no século XXI.
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Itamar Dantas: Jornalista graduado pela UFJF, pós-graduado no curso Estéticas Tecnológicas pela PUC-SP. Foi redator e curador de conteúdo do site Álbum Itaú Cultural, veículo voltado à música popular brasileira contemporânea. É fotógrafo da Google.