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Cinema na escola: lei determina a exibição de filmes nacionais
O cinema na escola é uma estratégia para ampliar o repertório cultural dos alunos, estimular a criatividade e facilitar o ensino de disciplinas como Português, Literatura, História e Geografia.
A importância disso fez com que o Ministério da Educação incluísse um item específico na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional para fomentar a formação de público para o cinema nacional, bem como utilizá-lo como instrumento de ensino.
A lei nº 13.006, de 2014, inclui filmes nacionais dentro do currículo das escolas públicas brasileiras, que agora são obrigadas a exibir produções nacionais por, pelo menos, duas horas mensais em sua grade curricular.
Para esclarecer essa iniciativa, entrevistamos o Pesquisador de Cinema e Educação da Universidade Federal de Juiz de Fora, Cristiano Rodrigues. Confira!
Entrevista com o professor e cineasta Cristiano Rodrigues
Impulso: Quais os benefícios a Lei nº 13.006, que formaliza o cinema na escola, traz para o audiovisual brasileiro?
Cristiano Rodrigues: Qualquer forma de arte, comunicação e expressão só se completa no encontro com o seu outro, ou seja, o público, as pessoas.
No caso do audiovisual, nossa produção televisiva – e agora a internet – não tem ruídos e sinapses nessa comunicação: ela é direta, precisa e eficiente.
Os brasileiros são muito “imagéticos”. Porém, com o nosso cinema a história é outra, os filmes têm muita dificuldade de chegar até as pessoas e assim criam “lendas” do tipo: “O cinema brasileiro é muito chato”, “o som do cinema brasileiro é ruim” e/ou “o Brasil não sabe fazer musical”.
Entretanto, o que acontece realmente é que as “Majors” (grande distribuidoras de cinema – principalmente americano) compram nossos queridos homens públicos para que com suas leis e estratégias garantam que os espaços de exibição (salas de cinema e programação das TVs) continuem privilegiando seus produtos. Seria ótimo não precisar da lei para fomentar o consumo de filmes nacionais, mas nessa conjuntura é fundamental ter o nosso cinema participando na educação de nossas crianças e adolescentes. Só assim o audiovisual brasileiro terá encontros com seu público e poderá crescer em volume de obras, diversificação de temas, formatos e gêneros, além de aprimoramento artístico, técnico e criativo. Quem sabe, assim, um dia nossas imagens vão cruzar o mundo, como a nossa música já faz com tanta glória?
IMP: A iniciativa do cinema na escola é capaz de formar um novo público para as produções nacionais?
CR: A ideia é exatamente essa: formar público. Mas nisso, há também um pequeno incômodo, pois mira o nosso cinema de uma perspectiva muito “comercial” demais. No entanto, além de pensar em formar público apenas, a iniciativa pública deveria pensar também em formar pessoas. É necessário formar pessoas que se emocionam no cinema, mais diretores de arte, preparadores de elenco, técnicos de áudio e fotógrafos.
IMP: A lei é capaz de aumentar a demanda por produções nacionais?
CR: Com certeza. A lei é capaz de estimular uma geração que irá criar o hábito de ir ao cinema ver filmes nacionais.
Ao gostar desses filmes, eles virarão assuntos recorrentes na fila do banco, na escola, na igreja e mais. Dessa forma, a lei é uma forma de possibilitar que os nossos filmes criem ideias, formem concepções, participem mais no cotidiano de nossas emoções e nos ajudem a refletir sobre questões sociais do país e do mundo, com nossas peculiaridades e refinamentos.
IMP: A lei está sendo, de fato, aplicada? O que falta, em termos de regularização, para a aplicação?
CR: A lei, como a maioria delas no nosso país, vai sendo arrastada por uns, tentada por outros e ignorada pela maioria. Mas o conforto é que os que vêm tentando aplicá-la andam fazendo um trabalho com muito afeto e afinco. Assim, vem se multiplicando projetos e trabalhos de professores e pesquisadores pelo país.
IMP: Como deve ser a abordagem com relação à exibição dos filmes nacionais, para que a lei seja bem utilizada?
CR: Acredito nas abordagens mais amplas, abertas e arejadas possíveis.
Penso que o cinema deve entrar por todas as frestas e arestas da escola. Isso significa passar filmes, deixar filmes disponíveis na biblioteca, nos computadores, celulares e onde mais se possa ver.
E quais filmes seriam? Penso que todos desejados pelas pessoas, com habilidade e cuidado para que não criem repulsa, mas sim seduzam.
É necessário deixar a fala solta sobre os sentidos que os alunos e professores possam construir a partir dos filmes.
IMP: Como integrar os filmes dentro de propostas pedagógicas que dialoguem com outras disciplinas escolares?
CR: Todo filme, a princípio, coloca em diálogo saberes e sentidos de diferentes áreas do conhecimento. Por sua própria natureza, o cinema é Técnica e Arte. Em si, ele já traz o diálogo das disciplinas. É só tentarmos nos abrir para esse diálogo!
Cinema na escola em outros países
As iniciativas que buscam inserir o cinema na escola não são exclusividade do Brasil. A Argentina lançou o programa “Escola vai ao cinema”, que insere os filmes como parte do currículo das escolas infantis. As crianças são levadas ao cinema para assistir às obras produzidas no país e têm aulas sobre o histórico e a crítica cinematográfica nacional.
O projeto é inspirado no modelo francês, o École au cinema, implantando na França em 1989, com o objetivo de valorizar a produção nacional. Desde então, o mercado cinematográfico francês cresceu ainda mais e se firmou como um dos mais importantes da Europa. A expectativa é que a boa experiência se repita tanto na Argentina quanto no Brasil.
São apostilas com atividades sugeridas relacionadas a diversos filmes brasileiros, para Ensino Fundamental I, II e Ensino Médio.
Os filmes nacionais dão subsídios para trabalhar inúmeros conteúdos na sala de aula e estimulam debates. Cinema na escola sempre foi necessidade e, agora, é lei.
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